Vinha de bicicleta e passei pela Mayersche. Lembrei-me de perguntar se ja sabiam quem tinha ganho o prémio Nobel da literatura e aí me comunicaram que tinha ganho Tomas Tranströmer. Perguntei se tinham algum livro dele e disseram-me que não. Parece que ele só editou três livros nos últimos vinte anos e isso talvez justifique a escassez do stock. Encontrei este video e achei bonito. Quem quiser ler poder seguir por aqui.
Lisboa
No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas calçadas íngremes.
Havia lá duas cadeias. Uma era para ladrões.
Acenavam através das grades.
Gritavam que lhes tirassem o retrato.
“Mas aqui!”, disse o condutor e riu à sucapa como se cortado ao meio,
“aqui estão políticos”. Vi a fachada, a fachada, a fachada
e lá no cimo um homem à janela,
tinha um óculo e olhava para o mar.
Roupa branca no azul. Os muros quentes.
As moscas liam cartas microscópicas.
Seis anos mais tarde perguntei a uma senhora de Lisboa:
“será verdade ou só um sonho meu?”
Tomas Tranströmer
Tradução de Vasco Graça Moura
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